“A espacialidade, o gesto e o acaso persistem no trabalho de Diogo Gonçalves. Num vídeo recente “Torção do espaço”, observamos a torção de um braço humano ao agarrar uma lâmpada, aí sendo possível ver um jogo entre espaço, luz e energia. Um corpo absorve a energia da lâmpada; a energia da lâmpada acomoda-se ao espaço de um corpo num espaço mais vasto.
Numa série igualmente recente de desenhos “Line up in space”, o gesto permanece como o resultado da manipulação aleatória de um conjunto de réguas acomodadas pelo acaso no espaço branco da folha de papel. A mão faz oscilar as réguas como se peneirasse o tempo; o peso das réguas contraria o gesto, o espaço é a casa: tempo, peso e gesto nela se aquietam.
Em “CL | 0”, a mudança do medium possibilita a tentativa de “fusão” do corpo, do espaço e da energia e através de uma dimensão digital.
Os pressupostos mantêm-se, a ferramenta e o meio mudam. A potência digital permite agora a entrada no interior do gesto — interior que a pele humana tende a esconder —, e a exterioridade assumida dos vários pontos, que seccionam as imagens, traduzem o acaso enquanto erro resultante do programa computacional.
A luz branca dos “perfis” atrai a mão (cuja textura é dada pela rede desenhada), e expande o gesto através das múltiplas formas que o processo de construção das imagens permite.
A cor resulta da especificidade do meio utilizado e reforça uma irredutível presença manifestada na sua aparência bidimensional.”
Ensaio de António Savério